Esquete Teatral: A besta risonha

Esquete Teatral: A besta risonha
Ator: Olavo Gomes

Cenário: No coreto do Passeio Público, um palhaço velho beirando a loucura discute a sua carreira com um público imaginário.

Eu nunca gostei de palhaços. Aquelas bestas risonhas, que num tropeço arrancam risadas dos que só se interessam por pão e circo. Eu sempre preferi os mágicos, os ilusionistas que intrigam, que instigam por saberem de algo que ninguém mais sabe. O poder.
Mágicos são alquimistas, enquanto palhaços são isto aqui: uma anedota tristonha, uma alma perdida no coreto da praça. -Ainda existem coretos? -Cadê a banda? -Cadê o circo?
Não. A melancolia não cai bem a um palhaço, gritará um dos muitos bêbados que hoje estão no coreto. E eu, num misto de fúria e de desespero arrancarei toda a minha maquiagem, como se assim eu me despisse da imbecilidade. (Silêncio) E você ao me ver meio besta, meio gente, se compadecerá do meu vazio. – Se sente melhor do que eu? – (desafiarei). (Silêncio) (O palhaço termina de tirar a sua maquiagem. Se olha num espelho).
- Sim. Você é melhor do que eu. (o palhaço conclui). (De uma cartola imaginária o palhaço tirará um pomba branca.) – Você é livre? (ficará a questionar a pomba). – Se sente livre? (continuará a indagar à pomba). (E ao soltar a pomba imaginária, o palhaço agirá como se ele mesmo fosse a pomba. Voando pelo coreto). (Ao final de um vôo ruma a liberdade, o palhaço-pomba retornará para a sua casa. No caso a cartola do mágico. De dentro da cartola, o palhaço-pomba olhará o mundo. E ali, continuará a conversar com a pomba imaginária.) – Eu também estou dentro de uma cartola. Quentinho aqui, não?! – Mas, me diga. Quando será a próxima apresentação? Devo voar ou só bater as asas? (O palhaço ouvirá o ruflar dos tambores. E ao abrir as cortinas. Se esquecerá que está sem maquiagem e automaticamente assumirá o seu papel de palhaço.  Tropeçará propositalmente, depois uma cambalhota. E se curvará em deferência ao publico.)   

Mírian Carvalho Lopes


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